quarta-feira, 23 de junho de 2010

REFLETINDO.

Jorge Costa *

Muito se cobra do poder público.Nós mesmos,homens da imprensa, por vez colocamos os administradores contra a parede cobrando deles decisões ou soluções para os mais diversos casos. Será que estamos sempre certos ? Até onde conhecemos os temas geradores dessas cobranças ? Faço essas observações e questionamentos depois de me deparar com um fato que me chamou muito a atenção na última semana. Numa visita ao Campo de Futebol do América, do Bairro Bela Vista,que na realidade fica na baixada do Zampereti,próximo ao parque, constatei o seu total abandono. Fui até o campo porque soube que o gestor esportivo do município,Cláudio Batista Manzoni, estava fazendo uma inspeção no local. Acabamos não nos encontrando,mas a minha ida até lá permitiu que eu conhecesse o local e tomasse conhecimento do atual estado daquele próprio municipal.Sai com um sentimento de indignação por constatar o abandono do campo e das dependências que ali foram edificadas. Mais tarde falei por telefone com o Batista e constatei nele o mesmo sentimento que eu senti. Foi a partir daí que eu procurei saber exatamente qual é a situação daquele bem público. O gestor esportivo me informou que o campo está entregue ao América para uso e fruto e que ao América cabe sua utilização e manutenção. Mas na prática não é isso que se vê, pois o time não o ocupa e nem faz a sua manutenção, aliás, constatei que os portões estão abertos, as portas dos banheiros estão abertas e que os mesmo estão imundos.
Eu sempre preguei que administração devia construir equipamentos para as práticas esportivas e colocá-los à disposição da população através de suas entidades representativas, as associações demoradores de bairros. Na minha ausência,durante seus oito anos de administração, o prefeito Chicão parece que deu ouvido ao que eu dizia ou escrevia,até porque trabalhamos juntos na área esportiva e ele conhecia minhas idéias. A distância,pela internet, eu acompanhava suas realizações e me sentia feliz, a ponto de dizer para mim mesmo, “o gringo ta fazendo aquilo que nós idealizávamos”. Mal sabia, que ao voltar para cá, encontraria tanta estrutura colocada à disposição das comunidades de bairros e muito menos, que encontraria algumas delas abandonadas por essas comunidades,como é o caso do campo do América.
Isso me leva a refletir e a lembrar o passado. No meu tempo de piá, lá em Cruz Alta e certamente aqui não devia ser diferente, pois afinal,quando cheguei aqui há 24 anos atrás,nem ginásio municipal existia, nós meninos nos contentávamos com pouco. No meu bairro existia uma pracinha e um campo que nós mesmos demarcávamos para jogar a nossa bolinha. Ali fazíamos nossas peladas e até realizávamos jogos com equipes de outros bairros.E foi assim que eu fui parar no Guarani, passando pelas suas divisões de base até chegar a sua presidência e auxiliar na construção da Nova Taba Índia. O que tínhamos nos bastava e nós cuidávamos como se fosse nosso. O campinho fazia a nossa alegria e nossos pais sabiam onde estávamos.
Hoje o poder público dá quase tudo e o que se vê é isso aí: Abandono, indiferença, descaso e, o que é pior,sempre cobrança do ente público. Está mais do que na hora demudar essa situação. É preciso que a sociedade,como um todo, representada por órgãos oficiais, passe a fiscalizar essas situações. Se o administrador fizer as coisas apenas no sentido de mostrar serviço e ganhar conceito visando seu futuro político e se as comunidades alvo dessas benfeitorias não fizerem jus ao que ganharam, é preciso dar um basta. Tem-se que colocar um freio nesses gastos, pois trata-se de dinheiro público que está indo pelo ralo.
Como jornalista tive que fazer a minha função, que é a de ouvir os dois lados da questão.Falei como presidente do América. O Dinarte me disse que de fato o campo está sob a responsabilidade de seu time, mas como a liga não marca mais jogos lá, como a prefeitura não construiu ainda a copa e como as escolinhas do América não treinam mais, eles desistiram momentaneamente de usar aquele local. Quer dizer, o América lava as suas mãos,joga a culpa na liga e ainda pede mais estrutura para a prefeitura.
Eis aí um tema que deve servir de reflexão para muitos,principalmente as pessoas que se envolvem como esporte, que estão na imprensa ou m qualquer outro órgão representativo, pois afinal,nós todos somos responsáveis por aquilo que acontece na terra onde vivemos e onde criamos nossos filhos.

*Jornalista, radialista e Professor de Educação Física